Acaba o bate-bola da manhã, e Marcos Daniel sobe em sua moto. O almoço é em casa, com a esposa e os dois filhos. Nos 16 anos de circuito mundial, o gaúcho teve poucos dias assim. A rotina agora é outra. Com 33 anos, o ex-número 56 do mundo começou recentemente a trabalhar no Itamirim Clube de Campo, em Itajaí (SC), a 20 minutos de sua casa, em Balneário Camboriú.
Marcos Daniel no Itamirim Clube de Campo, seu novo local de trabalho (Foto: Divulgação)
Antes de aceitar o trabalho na cidade vizinha, Daniel, que deixou o circuito em maio do ano passado, teve boas propostas. Poderia ter ido para a Alemanha ou para os Estados Unidos. Também poderia ter viajado para Dubai e ajudar na preparação de Victoria Azarenka. O brasileiro disse não à proposta para trabalhar com a bielorrussa e decidiu participar da preparação de juvenis em transição para o mundo dos profissionais.
O primeiro objetivo é ajudar o paulista Bruno Sant'Anna, que já vinha sendo treinado pelo argentino Patricio Arnold em Itajaí. Daniel passa a formar a equipe, que também conta com Ivan Kley e o preparador físico Mark Caldeira. Local de trabalho, colegas e um pupilo de potencial são motivos de alegria para o empolgado gaúcho.
- Estou muito feliz. Imagine que eu tivesse que mudar de cidade? Hoje, pego a moto e vou almoçar em casa. Tem tudo para dar muito certo. A gente está montando um esquema bom para quem quiser entrar no alto rendimento, como é o caso do Bruno Sant'Anna.
A meta da equipe - na conversa por telefone, Daniel sempre reforça que ele, Arnold e Caldeira trabalharão como time - é colocar Sant'Anna entre os cem melhores tenistas do mundo. O jovem, em seu primeiro ano como profissional, já mostra bom potencial e ocupa o 569º posto no ranking. No Challenger de São Paulo, nesta semana, passou pelo qualifying, derrotando Tiago Fernandes, campeão do Australian Open juvenil em 2010, e estreou na chave principal com vitória sobre o francês Nicolas Devilder. Daniel, porém, sabe que o trabalho é de longo prazo.
Bruno Sant'Anna é a maior promessa do Itamirm,
em Itajaí (Foto: Divulgação / Felipe Priante)
- A gente espera que o Bruno consiga dar resultado, mas com calma. A gente sabe que é o primeiro ano dele como profissional. A esquerda com duas mãos dele é boa, ele consegue jogar dentro da quadra. Sabe volear, tem uma boa mão. Precisa ser mais agressivo em alguns momentos, coisa que é normal. Às vezes, o cara que tem uma boa mão é meio preguiçoso para ser agressivo. O Bruno é um guri bom, não está se achando. É um cara com uma cabeça muito boa. Consegue absorver muito rápido e colocar em prática. Isso me motiva - explica.
De São Paulo, Sant'Anna devolve os elogios.
- Eu treinei com ele uma semana antes de vir para cá. Foi muito proveitoso, ele me dá muitas instruções sempre. Mesmo não estando aqui, ajuda muito. Ele me ligou para falar do Devilder, que ele já tinha enfrentado, deu dicas dos pontos fracos e fortes dele, como eu poderia aproveitar. E esse tipo de coisa é muito importante. Eu sempre acompanhei a carreira dele. Foi um espelho, um dos melhores jogadores do Brasil. Está sendo uma experiência muito boa.
Patricio Arnold, que acompanhou Sant'Anna em São Paulo, é outra fonte de motivação para Daniel. O gaúcho afirma que já aprendeu muito em menos de um mês no Itamirim Clube de Campo.
- Vou usar muitas das coisas que aprendi ao longo da carreira, mas estou aprendendo ainda a sistemática de trabalho daqui, que é um pouco diferente da que eu vinha fazendo. Tenho a humildade de entender que aquilo que eu sabia já é obsoleto para o treinamento de um atleta. Nisto, o Patricio está muito por dentro. Aquilo que eu fazia de volume de treino, muita quantidade, aquilo tem que ter. Mas já peguei livros da Federação Internacional de Tênis (ITF), que são apostilas, e estou vendo que muito treinamento se baseia em situação de jogo.
Daniel lembra, inclusive, de duas ocasiões em que treinou demais antes de um Grand Slam e acabou jogando machucado. A primeira delas foi em Wimbledon/2010, quando passou os últimos dias antes do torneio sem conseguir treinar. A mais recente foi no Australian Open/2011, onde uma lesão no joelho surgiu durante os treinos. O gaúcho ainda entrou em quadra, mas sem condições de jogo e desistiu quando perdia de Rafael Nadal por 6/0 e 5/0.
- Não é ficar só trocando 50 direitas cruzadas, como eu fazia. Isso também é preciso, mas é só uma parte. Quero fazer aquele tipo de coisa, mas não só aquilo. Assim não quebro os caras. Meu treino era muito massacrante. Eu jogava bem, mas não conseguia me manter sem lesão por muito tempo. O treinamento aqui (em Itajaí) não é tão massacrante, e você ganha o ritmo de jogo muito mais rápido. Tem que treinar a parte tática junto com a técnica. Se o cara é bom, você coloca isso em prática e funciona - explica.
Colaborou João Gabriel Rodrigues, em São PauloDICAS PARA PROFISSIONAIS:
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