Vida de técnico é fácil", brinca Marcos Daniel depois de comer um típico cheeseburger com batatas fritas e refrigerante em um bar descolado da Quinta Avenida em Nova York. Talvez por isso o gaúcho de 33 anos, recém-aposentado do circuito mundial, atenda o telefone de seu quarto dizendo, em tom de piada: "McDonald's!".
A experiência é inédita e ainda em caráter não-oficial. Daniel não tem contrato como técnico, mas está na cidade para ajudar Larri Passos nos treinos de Rogério Dutra da Silva, o Rogerinho, no US Open. Seu "pupilo" tinha acabado de passar pela primeira rodada do qualifying, e o gaúcho tinha o dia livre. Entrou em uma loja de eletrônicos atrás de um tablet, passou em uma loja de roupas e curtiu o dia.
- Se eu fosse jogar amanhã, estaria todo preocupado com corda, raquete, tudo. Na hora do jogo, ali fora, eu fico nervoso, mas agora estou numa boa - disse, na véspera.
Nesta quinta-feira, enquanto Rogerinho disputava a segunda rodada do qualifying contra o espanhol Adrian Menendez-Maceiras, o clima já não era tão tranquilo. Com o desenrolar do jogo, Daniel não parava de falar. Às vezes com o compatriota, às vezes com quem estava do lado, às vezes consigo mesmo.
- Aqui é um pouco mais nervoso. Eu passei antes do jogo com o Rogério o que ele tinha que fazer. E ele está fazendo certinho. O nervoso que dá é até saber se ele conseguiu entender tudo que eu passei para ele. Não consigo que ele mude o jogo dele. Só preciso que ele adapte o jogo dele ao cara (adversário). A gente treinou muito tempo junto e isso já tá fácil - explica.
Os gestos também são frequentes. Quando Rogerinho saca pela primeira vez diante de um break point, Daniel aponta a direção em que quer o serviço. Pouco depois, o pupilo confirma e o treinador comemora: "Ele tá vendo. Ele tá vendo todas as jogadas", diz para si mesmo, reconhecendo que Rogerinho faz uma boa leitura do jogo do adversário.
Técnico iniciante já inventa gíria adotada por Larri
Era verdade. Dali em diante, Rogerinho venceu cinco games seguidos, fechando o primeiro set e largando na frente também na segunda parcial. Um momento de maior pressão veio no último game, com o brasileiro sacando para o jogo em 5/3, mas atrás no game por 30/0. "Vamo lá! Masculino!", incentiva Daniel. "Masculino?" pergunta o repórter. O treinador ri e responde.
- Isso aí fui eu que introduzi no tênis (risos). Até o Larri (Passos) usa com o Thomaz (Bellucci) às vezes. Quando tu treina bem, é treino masculino. É forte. O Larri gosta, ele dá risada com essa história aí - conta o treinador, feliz com a função.
Rogerinho vence o jogo por 6/2 e 6/3 e avança para a última rodada do quali. Mais uma vitória e ele alcançará pela primeira vez a chave principal de um Grand Slam. E o atleta de 27 anos só tem boas palavras para descrever a relação com Daniel nesta semana.
- O Marcos é um cara muito batalhador, tem uma história um pouco parecida com a minha, de batalhar, de conseguir começar a jogar bem um pouco mais tarde. Desde que eu comecei na academia (de Larri Passos, em Camboriú, Santa Catarina), ele sempre me ajudou bastante, dando uns toques aqui, uns toques ali. Está sendo bem bacana. Ele foi um baita jogador e consegue ler muito bem o jogo. Junto com o Larri, está conseguindo me ajudar bastante nesta semana aqui - disse o atual número 112 do mundo.DICAS PARA PROFISSIONAIS:
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