Tênis feminino do Brasil respira com nova geração





Após viver em completo ostracismo durante as últimas temporadas, o tênis feminino brasileiro respira. A oxigenação que começou no ano passado ganha corpo em 2011 e o aumento no número de torneios profissionais realizados no País se traduz na quantidade de jovens que já contabilizaram seus primeiros pontos no ranking mundial. Com mais investimento e patrocínio, a nova geração pode despontar.

"Antes, precisávamos viajar para a Europa e passar nove semanas jogando Futures. Agora, não há mais essa necessidade. Podemos acordar de manhã, pegar um taxi de casa e jogar um torneio. Isso, com certeza, faz toda a diferença", disse Roxane Vaisemberg, 22 anos, segunda melhor brasileira no ranking mundial (242ª). "Já vi muitas meninas pararem de jogar por terem dificuldade financeira de disputar os torneios", explicou.

Na temporada de 2008, de acordo com dados disponíveis no site da Federação Internacional de Tênis (ITF, na sigla em inglês), foram realizados apenas oito torneios profissionais no Brasil. Em 2011, na esteira da Lei de Incentivo ao Esporte e com apoio da Confederação Brasileira de Tênis (CBT), estão previstos 18 campeonatos, 16 com premiação de US$ 10 mil (cerca de R$ 16 mil) e dois com premiação de US$ 25 mil (R$ 40 mil).

Nascida em São Carlos, no interior paulista, Vivian Segnini precisava rifar a própria raquete na tentativa de reunir recursos suficientes para viajar e disputar torneios no exterior no começo da carreira. Solidários, os sócios do clube local participavam da rifa e, invariavelmente, o ganhador da raquete devolvia e peça para a dona, que repetia o expediente.

Vivian, 22 anos, é a terceira melhor brasileira na lista mundial (291ª) e conta com a estrutura do Instituto Gaúcho de Tênis para se desenvolver desde 2010. "A tendência é, cada vez mais, termos melhores jogadoras. Com mais meninas jogando torneios profissionais no Brasil, a chance de uma despontar é maior. Tenho certeza que em breve teremos brasileiras no top 100", diz a atleta.

A aposta de Vivian é ousada na medida em que ver uma brasileira entre as 100 melhores significaria o final de um tabu de mais de 20 anos. Andréa Dadá Vieira, 76ª colocada em novembro de 1989, foi a última a integrar o seleto grupo, no qual permaneceu até abril de 1990. Eliminada na primeira rodada do Aberto dos Estados Unidos em 1993, também é a mais recente representante do País na chave principal de simples de um Grand Slam.

Ironicamente, a maior atleta individual da história do Brasil foi uma tenista, Maria Esther Bueno, dona de 19 títulos de Grand Slam e que já foi considerada a número 1 do mundo. Além dela, a única brasileira a ganhar um campeonato de primeira linha em simples e a alcançar o top 50 foi Niege Dias, que venceu o Aberto de Barcelona em 1988 e foi a 31ª em dezembro do mesmo ano. Quadrifinalista da Fed Cup em 1965 e 1982, o time nacional está afastado da elite desde 1992.

No ranking atual, divulgado pela WTA na última segunda-feira, 55 brasileiras constam com pontos. A média de idade do grupo é de apenas 19,1 anos, uma geração embalada pelo novo contexto do tênis feminino nacional. Maria Fernanda Alves, 28 anos, é a segunda mais velha da lista e chegou a flertar com o grupo das 100 melhores do mundo - foi a 132ª de simples em setembro de 2005 e a 109ª de duplas em abril de 2006. Atualmente, vê as jovens com chances que não teve.

Promessas
"Elas estão tendo uma oportunidade muito boa e tomara que consigam aproveitar. O Brasil tem meninas que estão jogando bem, com garra e espero que continuem assim", afirma Maria Fernanda, que citou Carla Forte (17 anos), Beatriz Maia (15 anos) e Nathaly Kurata (18 anos) como tenistas promissoras. "É difícil dizer só uma e prefiro não tentar listar todas para não faltar ninguém, mas tem algumas meninas que estão lutando bastante", completou.

Beatriz Maia, 1,84m e 15 anos, é apontada como principal revelação do tênis feminino brasileiro. No fim de 2010, ela deixou São Paulo para morar sozinha em Balneário Camboriú com a finalidade de treinar na academia de Larri Passos. A nova rotina culminou com seus primeiros pontos no ranking mundial, somados na semana passada. Na transição para os torneios profissionais, a jovem convive com uma realidade diferente de suas antecessoras.

"Estou começando agora a entrar no circuito profissional e para mim está tendo um ótimo apoio. Além disso, meu calendário está batendo com os torneios e tem vários novos Futures de US$ 10 mil. Isso é bom, porque as meninas vão jogando e conseguindo pontos para aparecer mais e viajar para a Europa. Se na época que ela (Maria Fernanda) fez a transição para os torneios profissionais não tinha oportunidade e patrocínio para viajar, acho que por esse lado sou uma privilegiada", diz Bia.

Para evoluir, além de apoio e talento, é fundamental ter comprometimento, ensina o técnico Roberto Carvalho, que acompanha Bia Maia. "É muito fácil falar que o problema era só falta de apoio. A mentalidade das meninas no Brasil precisa mudar, elas têm que ser mais competitivas, têm que realmente pagar o preço para ser uma grande jogadora, e não desistir no meio do caminho. É uma coisa muito difícil e só chega quem trabalha muito", declarou.

Parceria
As tenistas associam as melhorias à importância que o esporte em geral ganhou no Brasil com a Olimpíada do Rio de Janeiro como pano de fundo. Pensando em formar tenistas para os Jogos, Gustavo Kuerten arquitetou uma parceria com o Ministério do Esporte, a CBT e o técnico Larri Passos. Bia Maia fará parte do projeto, com verba de R$ 2 milhões, e Roxane Vaisemberg também recebeu o convite.

Para Maria Fernanda Alves, os resultados de Thomaz Bellucci, 23 anos, dono de dois títulos de primeira linha, também ajudaram. "É um espelho, é alguém de nós que está entre os melhores do mundo e nos dá mais vontade, mais garra", comenta.

O programa de apoio elaborado pela CBT em conjunto com os Correios, utilizado inicialmente no masculino e estendido para as mulheres, também foi elogiado pelas tenistas. As jogadoras convocadas para a Fed Cup, como Maria Fernanda Alves, além de algumas juvenis, a exemplo de Bia Maia, contam com patrocínio da estatal para viajar e disputar torneios no exterior.

A oxigenação do tênis feminino é comemorada pelas jogadoras, das nascidas na década de 1990 às mais experientes. No entanto, elas lembram que a realização de mais campeonatos profissionais no Brasil, a maioria esmagadora com premiação de US$ 10 mil, é apenas um começo. "Para as meninas que já estão entre as 300 melhores, seria melhor se fizessem mais Challengers dentro do País. Melhorou, mas ainda falta muito", pontuou Roxane.




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